quarta-feira, 26 de maio de 2010

004. O homem e o sabiá - 2006

Eis que ao acordar vejo apenas escuridão, não dá pra ver nada, por mais que forca minha visão, vejo apenas solidão.
Um calor enorme me envolve, me protegendo de não sei o que, pois apenas o que lembro são vagos desejos de viver.
Eu sou um homem tão triste, em busca de tanto e nunca encontrei nada como quis. Foram tantas frustrações, que prefiro nem recordar.
Agora depois de tanto me vejo assim, perdido, sem visão... e pelo que percebo, sem movimentos, meu corpo parece atrofiado, com medo de viver...
Um medo esta tomando conta de mim... é tanta escuridão, e minha vida é apenas o que consigo lembrar... desde o dia em que nasci...
Um enorme clarão que quase me cegou e eu estava lá, cercado de bocas e burburios sem sentido... até o dia em que lembro de um indefeso sábia... que gritava... fiquei com medo que ele fosse morrer... mas de repente ele começou a voar....
Fui uma criança comum como as outras entre elas... brincando, correndo e sonhando... sonhando em ser piloto desses aviões bem grandes. Voar como o sabiá.
Cresci com fantasias ingenuas da vida, de que seria um doutor bem sucedido e feliz, o orgulho da família, um grande pai, um grande filho.
Crescendo me ví buscando esses objetivos a mim dados, criei-me um piloto da vida, voando atrás de uma vida de felicidades.
E posso dizer que fui conseguindo, pois nunca tive muitas frustrações amorosas, posso até dizer que me casei com meu primeiro amor...
Fomos uma família muito feliz... foram muitos bons momentos, com tanto amor, tantos carinhos, tantas emoções... emoções unicas.... como um filho.
Era tanta felicidade... e era mesmo.
Vejo como se fosse ontem mesmo, do mesmo jeito que num pulo cresci, virei doutor, me casei e tive meu primeiro filho.... assim foi mais rapidamente ainda com o segundo e o terceiro.
Foi incrivel como o tempo foi se tornando a contradição da felicidade que vivia, pois elas se tornaram passado muito brevemente... assim como nasceram nossos filhos.... assim como cresci, me formei me casei, assim se repetiu, como esse texto... poucas linhas.
Um vão se abriu lentamente em meu caminho... assim como em minha face, a tes foi ganhando vãos, no cabelo e eu era um avô querido.
Era muito bom, mas triste de ver como era breve... e o mais estranho é de que as lembranças cada vez são menos, estão acabando...
Só lembro que um dia chorei muito de tristeza, pois eu queria mais, mas era tudo muito independente, me tornei desnecessário.
E no fim que senti uma paz muito grande, ao fechar meus olhos e ver meu avião, sobre meu comando voar... eu era o piloto dessa nave.
Essa aeronave vôou o dia todo até que escureceu, e não vi mais nada... apenas essa escuridão... e esse calor que sinto, como se estivesse em minha cova.
Foi quando percebi que acabou, eu havia morrido mesmo. E vi... era assim mesmo, muito breve essa vida e no fim de tantas felicidades, meu vôo de avião foi apenas meu enterro.
Agora já que não tenho escolha, me consolo em meu calor, vou fechar os olhos e me calar, já não posso fazer nada, acabou.
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Mas eis que ouço um barulho enorme de rachar os ouvidos... o que esta acontecendo. Me sinto indefeso, como quando eu era criança... e lembrei do sábia indefeso...
E ví a luz no meio entre algo como se os raios saissem entre folhas de muitas palmeiras. E um calor enorme, e uma leve brisa em meu rosto que me impedia de abrir os olhos...
Que estranho, não lembro de mais nada....
Abro enfim os olhos e posso me mover... e quando me vejo... me vejo um pequeno sabiá!!!
Sei que a vida é curta e dessa vez eu vou voar!!!
A vida é assim.... muito curta.
Cada sonho, uma felicidade que não devemos desistir jamais.
Pois quando percebermos já é tarde demais, já que sempre podemos nos sacrificar e consiliar... mas nunca desistir de um sonho, e nem de simplesmente sonhar.
E ser feliz sem limites... sem barreiras... apenas se-lo... de qualquer maneira!!!

(Bruno Cohen - 25.Setembro.2006)

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